O Museu do Holocausto de Curitiba promoveu, no último domingo, o lançamento dos livros Entre as sombras e os sóis, de Carlos Reiss, e Herança, do premiado escritor Jacques Fux.
O Museu do Holocausto é o primeiro dessa temática no Brasil e tem por objetivo recordar o genocídio de judeus, cometido pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, e que resultou na morte de cerca de seis milhões de pessoas. O Museu também realiza atividades para combater o ódio, a intolerância, o racismo e o preconceito.
Entre as sombras e os sóis
Em Entre as sombras e os sóis, Carlos Reiss, coordenador do primeiro Museu do Holocausto do país, concebe a biografia de Sala, sua avó paterna, como fruto de mais de 20 anos de pesquisas sobre o mundo judaico e o Holocausto.
A narrativa apresenta descobertas e histórias, reconstruindo algumas passagens históricas e traços da personalidade de Sala. Entretanto, Carlos afirma que contar a jornada de sua avó e de traçar suas raízes não foi fácil, devido à desestruturação de ramos familiares pós-Holocausto e imersão consciente em capítulos obscuros não apenas dela, mas da história do povo judeu.
Carlos tinha apenas 13 anos quando Sala faleceu, em 1994. “Ainda criança, apesar de ouvir histórias da guerra durante os almoços de domingo, ninguém em volta da mesa se preocupava em guardar ou em registrar para a posteridade — fruto também de uma construção traumática daquelas memórias”, diz.
“Sendo assim, o objetivo principal do livro é imortalizar sua história, acompanhar sua trajetória pelo Gueto de Lodz, Polônia, e por campos de concentração e extermínio — incluindo o complexo de Auschwitz —, e registrar sua força e capacidade de resiliência para construir uma nova família, após perder tudo e todos em meio às sombras e à escuridão do genocídio”, completa Reiss.
O livro — cujo título é inspirado na canção “Minha Casa”, do compositor Zeca Baleiro — é um mergulho nas histórias de uma jovem que atravessou grandes atrocidades e reuniu forças suficientes para erguer uma nova vida e criar três filhos.
Herança
Em Herança (Editora Maralto), o premiado escritor Jacques Fux partiu de uma pesquisa de seis anos sobre os diários de crianças que estiveram em campos de concentração para explorar o pós-memória de um trauma geracional e reproduzi-lo em uma ficção que acompanha Sarah, Clara e Lola — três mulheres, representantes de diferentes gerações de uma mesma família — com histórias que se cruzam e que vivenciaram o nazismo de formas diferentes.
Sarah, aos 15 anos, foi obrigada a viver no Gueto de Lodz, Polônia, sendo lentamente privada de sua juventude, mas ela resiste ao escrever em seu diário. Anos mais tarde, sua filha, Clara, luta contra a dor intergeracional do Holocausto, contra a distância e a frieza impostas pela mãe, atada em silêncios. Por fim, Lola, filha de Clara, também recebe esse legado, elaborando a era da catástrofe e da barbárie, de forma poética e crítica em suas “notas”.
“Apesar de ser um livro de ficção, todas as histórias e personagens são reais. Se o leitor for buscar os diários, vai ver que eles existiram e perceber a dura realidade do trauma geracional ocasionado na Segunda Guerra Mundial”, destaca Jacques Fux.
A obra é uma história de três vozes combatendo o sofrimento, o apagamento das narrativas e a violação da própria humanidade. Ainda que seja doloroso falar do passado, as três personagens do livro se posicionam, cada uma a seu modo, diante das violências históricas e de suas memórias, tentando sempre se manterem de pé e pavimentar o futuro.
Sobre os autores
Nascido em Belo Horizonte, Carlos Reiss hoje coordena o Museu do Holocausto de Curitiba, que conta a história de vítimas deste genocídio e transmite seus legados e lições éticas. Gestor e consultor, foi responsável pela concepção pedagógica do espaço, com organização de materiais, ações educativas, curadorias e treinamentos.
Jacques Fux é ficcionista, ensaísta e tradutor. Graduado em Matemática e mestre em Computação, tem doutorado em Literatura Comparada pela UFMG e pela Université de Lille (França).
Foi pesquisador na Universidade de Harvard de 2012 a 2014. É autor dos romances Antiterapias, Brochadas e Meshugá, além de ensaios e livros infantis. Seus livros e contos já foram publicados na Itália, no México, no Peru, em Israel, nos Estados Unidos e na França.