Minha experiência como professor universitário não tornou menos chocante a leitura do último resultado – o primeiro para o Brasil – do Pirls 2021 (Progress in International Reading Literacy Study). O país enfrenta um cenário preocupante no que diz respeito às habilidades de leitura e escrita, que vão muito além do simples ato de decifrar palavras, e isso se reflete nas dificuldades de escrita e leitura que encontro nas salas de aula do ensino superior. Nossa capacidade de ler e escrever reflete diretamente nossa habilidade de nos comunicar e, mais importante ainda, de entender o outro, o que evidencia o tipo de sociedade que estamos formando.
No resultado publicado do Pirls 2021 o Brasil obteve um resultado desolador, ocupando a 39.ª posição entre 43 países avaliados. Para piorar, ficamos atrás de nações consideradas mais pobres, como Azerbaijão e Uzbequistão. Essa colocação alarmante nos coloca diante de uma triste realidade: estamos falhando em desenvolver as habilidades básicas de leitura e escrita em nossos alunos.
A leitura não se resume apenas à decodificação de palavras; ela envolve a capacidade de compreender textos, estabelecer conexões, interpretar contextos e desenvolver um senso crítico. Da mesma forma, a escrita vai além de simplesmente colocar palavras no papel; ela exige a habilidade de expressar ideias, organizar pensamentos e transmitir informações de forma clara e coerente. É por meio da leitura e escrita que nos conectamos com outras pessoas, compartilhamos conhecimento, expressamos nossos pensamentos e compreendemos diferentes perspectivas. Quando falhamos em cultivar essas habilidades, corremos o risco de criar uma sociedade fragmentada e com dificuldades de se entender e cooperar.
Os resultados do Pirls 2021 são um alerta claro de que algo está errado em nosso sistema educacional. Apenas 13% dos alunos brasileiros foram classificados como proficientes, enquanto 38% não dominavam as habilidades básicas de leitura. Isso levando em consideração que os alunos que efetivamente fizeram a prova em 2021 eram aqueles que estavam na escola. Em outras palavras, talvez não tenhamos nem considerado os alunos de pior desempenho ou com maiores restrições econômicas. Essa deficiência tem raízes profundas, e a pandemia apenas agravou essa situação.
É inadmissível que um país com tantos recursos e potencial como o Brasil esteja ficando para trás em relação a nações que priorizam o desenvolvimento dessas competências. Países como Singapura, Hong Kong, Rússia, Inglaterra e Finlândia, que alcançaram os melhores desempenhos no Pirls, entendem a importância de uma educação sólida e voltada para a formação integral dos indivíduos. Enquanto nos concentrarmos em criar meras engrenagens para um sistema produtivo – o que a reforma do Ensino Médio representa, por exemplo – falharemos em desenvolver cidadãos.
É necessário alinhar as avaliações nacionais, como o SAEB, aos padrões internacionais de excelência e não apenas focar nas estatísticas mais convenientes que nos convencem de que estamos indo bem só porque não adotamos as mesmas regras do resto do mundo. A deficiência na leitura e escrita não se limita apenas a uma questão individual, mas é também um problema social. A falta de comunicação efetiva e compreensão mútua gera divisões, preconceitos e limitações no desenvolvimento coletivo. Para construir uma sociedade mais justa e democrática, é imprescindível investir na educação de qualidade que promova o domínio da leitura e escrita como ferramentas essenciais para a participação cidadã.
*Walcir Soares Junior (Dabliu), doutor em Desenvolvimento, é professor do curso de Ciências Econômicas na Business School da Universidade Positivo (UP).