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Nem toda dificuldade é um distúrbio

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Nem toda dificuldade é um distúrbio

Wania Burmester*

Um olhar com carinho. Muitas, muitas vezes esse é todo o esforço que precisamos fazer para acessar os tantos universos que habitam outras pessoas. E, se isso é verdade para todos nós, seres humanos, é ainda mais verdade para quem, como eu, dedica a vida a educar. Essa missão quase sagrada de transmitir o que se sabe e, ao mesmo tempo, aprender uma infinidade de novas coisas, é menos técnica do que pode parecer, ao mesmo tempo que demanda uma técnica apurada. Um misto de emoção e racionalidade que se mostra cada vez mais necessário. Se algo não pode ser atingido por um desses caminhos, sem dúvidas será pelo outro.

A cada ano que passa, as escolas recebem mais e mais relatos de professores sobre estudantes com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno do espectro autista (TEA), comportamentos inadequados e dificuldades de aprendizagem. Parte desses alunos podem ter, como mencionado, algum tipo de distúrbio, transtorno ou deficiência já diagnosticado. Outros, porém, apresentam apenas dificuldades pontuais que têm uma série de causas, como falta ou excesso de estímulos, uma rotina de sono disfuncional, falta de interesse no assunto estudado ou de conexão com os professores, inadequação à metodologia da escola, questões emocionais ou familiares.

Para isso nos preparamos antes, durante e depois de nossa formação. Faz parte da missão do educador dedicar um olhar atento a cada criança ou adolescente, porque é por meio desse olhar que será possível compreender exatamente o que está acontecendo. Uma das formas de fazer isso é criar situações para que eles possam contar suas sensações, percepções, frustrações e dificuldades, desde bem pequenos. Abrir os ouvidos e o coração ao que nossos estudantes têm a dizer é o que leva nosso trabalho do ordinário para o extraordinário. Fazer a leitura da criança ou adolescente, perceber como ele está se sentindo, suas alegrias, habilidades e angústias, seu autoconhecimento, suas emoções, suas aprendizagens e também, o relacionamento com seus colegas e com os professores.

Mas pais e responsáveis também são capazes de contribuir para essa leitura. Quando se fala de crianças e adolescentes, o comportamento funciona como um termômetro. São eles que sinalizam que algo está acontecendo e cabe a nós, adultos com muito mais vivência, identificar esses sinais. Assim, podemos ajudar de forma mais assertiva e diferenciar as dificuldades de cada um dos possíveis distúrbios. Afinal, nem toda criança que tem dificuldades na escola tem algum distúrbio. 

Por exemplo: quando um aluno começa a demonstrar dificuldade para realizar a tarefa de casa, é preciso verificar se ele não se lembra qual é a melhor forma de fazê-la, se não compreendeu o conteúdo ou se não tem habilidades para realizar a mesma. Para cada um desses casos, existe uma melhor conduta de orientação. É possível que os próprios pais possam ajudar, explicando os enunciados, relendo os textos ou até sugerindo que a criança/adolescente faça boas perguntas durante a aula, para que tenha maior autonomia na hora de resolver as tarefas. Porém, se as dificuldades forem recorrentes em determinado componente curricular ou situação, vale uma conversa com a equipe pedagógica para identificar o que está acontecendo. 

É preciso investigar o percurso de aprendizagem do aluno, para verificar se o conteúdo novo ainda não foi bem compreendido, se a dificuldade de agora não é reflexo de conteúdos anteriores que não foram bem assimilados, ou, ainda, se o aluno tem alguma dificuldade de compreensão e abstração. No caso de um possível diagnóstico ser aventado, a escola deverá solicitar uma avaliação de profissional qualificado para isso.

Nunca é fácil ouvir alguém apontar defeitos nos nossos filhos, mas os professores e coordenadores têm como objetivo a aprendizagem e o bem-estar de seus alunos. Uma solicitação de avaliação neurológica ou psicológica pode parecer muito dolorosa para os pais, mas esse é o caminho para eliminar barreiras e favorecer a criança. Muitas vezes as avaliações solicitadas servem para descartar hipóteses e, assim, atuar na recuperação do conteúdo e aprendizagem.

Considerar que a equipe pedagógica tem os mesmos objetivos que a família é muito importante. Olhar juntos, com carinho, na busca de melhorias para a aprendizagem, socialização e autoestima do aluno costuma ser o primeiro passo para o sucesso.

*Wania Burmester é especialista pedagógica do Sistema Positivo de Ensino.

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