Flávio de Souza*
Vivemos cenários existenciais marcados pelo aceleramento dos processos, muitas vezes prescindindo das pessoas, do tempo, dos projetos que cada um de nós carrega em si. E, em um movimento automático, esse modus operandi é passado às novas gerações, acelerando os processos também de nossas crianças e adolescentes. Cenários, pessoas, velocidade, ansiedade, resultados… precisamos respirar e nos perguntar sobre saúde mental.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), “saúde mental é um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade”. E, nessa miríade de possibilidades, há algumas situações em que as pessoas, inclusive as mais jovens, se sentem bem o suficiente para lidar com as adversidades e imprevisibilidades de seu cotidiano, onde potência e fragilidade se encontram e diante das quais a arte de planejar pode fazer sentido e trazer benefícios.
Não se tem aqui pretensão alguma de estabelecer um modo de vida ideal. Pelo contrário, trata-se apenas do registro de um ponto de partida, entre tantos possíveis, para a reflexão sobre essa questão sob a perspectiva de sua dimensão social. Pensada, portanto, com base no estar bem consigo mesmo e com outros, na habilidade de discernir e contemporizar as exigências da própria vida, lidando de forma proativa com suas emoções nos contextos existenciais desafiantes em que vive e reconhecendo suas potencialidades e limites diante dessas situações.
Nesse contexto, podemos falar sobre a importância do planejamento como “ferramenta” de busca de equilíbrio, de “bússola” a apontar direções que contribuam com esse estado de bem-estar. Entendemos que planejar, com base no propósito e no essencial, implica colocar-se em dinamismos intra e intersubjetivos que demandam processos de ruptura e comprometimento. Mas, também, em processos objetivos e pragmáticos de escolha, foco e comunicação assertiva.
É fundamental saber de onde se está saindo, qual caminho tomar e para onde se vai. E, para isso, é preciso romper com o estar disponível para tudo, a qualquer momento. Essa é uma condição imprescindível para estar disponível para o que é essencial e necessário. Perdido nas teias criadas por todos os “sim” apressados, perde-se o foco e o cansaço é inevitável. Ruptura é um passo essencial para reconectar-se consigo mesmo e com os que estão à sua volta. É condição para “contribuir com a sua comunidade”.
Comprometer-se com o essencial implica ainda simplificar as narrativas e entregas de tal forma que se torne possível escutar e ser escutado por seus interlocutores habituais e por outros, novos. Comprometer-se é prometer juntos, criar cumplicidades, estabelecer vínculos, pactuar. Foco, simplicidade e compromisso permitem caminhar juntos, acolher diversidades, “recuperar-se do estresse do rotineiro”, compartilhar, sem sobrecarga.
Planejar implica também discernir e escolher. Sem discernimento corremos o risco de continuar fazendo muito do mesmo, com pouca ou nenhuma efetividade. Isso nos faz sentir assoberbados de tarefas, presos ao ordinário das rotinas.
Discernir nos permite escolher e a escolha brota da priorização, da concentração de energias no essencial. Isso nos dá o direito à ausência, o exercício da arte de estar indisponível para tudo aquilo que não é o essencial. Planejar, discernir e escolher nos permitem desenvolver e ser produtivos.
Enfim, buscar o estar bem e o bem-estar implica engendrar as condições subjetivas e objetivas que permitam-nos engajar na realização de projetos enquanto possibilidades de chegar onde queremos, com consciência das condições de onde estamos partindo, do porquê estamos nos colocando a caminho, da bagagem essencial que decidimos carregar e da escolha dos melhores trajetos para atingir nossos objetivos, juntos e bem.
*Flávio de Souza é coordenador pedagógico do Sistema Positivo de Ensino.