
Com a aproximação do Dia dos Namorados, o professor Fernando Diogo Padovan, do curso de Psicologia da Faculdade Santa Marcelina, revela uma mudança significativa nos relacionamentos amorosos: casais estão cada vez mais trocando presentes materiais por momentos de afeto, experiências compartilhadas e conexões emocionais genuínas. Segundo ele, essa transformação dá luz às teorias psicanalíticas e sociais, apontando para o que ele chama de uma “revolução silenciosa” no modo como vivemos o amor.
Segundo Padovan, pela lente da psicologia, essa mudança representa uma busca por objetos relacionais autênticos – conceito desenvolvido por Donald Winnicott, psicanalista inglês fluente no campo das relações objetais, que se refere a vínculos verdadeiros, não mediados por substitutos como presentes caros. Para o professor, muitos dos presentes tradicionais funcionavam como projeções de culpa ou tentativas inconscientes de preencher lacunas emocionais. “O capitalismo transformou até o amor em mercadoria”, afirma, citando Karl Marx, sociólogo alemão. “Ao priorizar experiências, o casal moderno parece dizer: ‘não quero um presente, quero presença’”.
Estudos indicam que experiências compartilhadas, como cozinhar juntos, assistir a um filme ou apenas caminhar de mãos dadas, têm se tornado mais importantes do que o valor financeiro do presente. Contudo, Padovan faz um alerta: a troca do consumismo material por experiências pode dar lugar a uma nova forma de pressão – a da relação perfeita: “Jantares temáticos, viagens surpresa e declarações elaboradas criam expectativas altíssimas. Quando o momento não sai como o esperado, instala-se a frustração. A ansiedade agora vem do medo de não corresponder ao ideal de romantismo que as redes sociais promovem.”
Para ajudar os casais a viverem o Dia dos Namorados de maneira mais significativa, Padovan sugere três práticas terapêuticas: primeiro, o exercício das “Cartas do Futuro”, em que cada parceiro escreve uma carta datada 10 anos à frente, contando como esse Dia dos Namorados impactou positivamente a relação. Depois, uma atividade baseada no psicodrama: o casal troca de papéis por um dia e dramatiza juntos um conflito recente. Por fim, o Desafio Anticonsumo: celebrar sem gastar nada, utilizando apenas os recursos já disponíveis em casa, transformando o ordinário em extraordinário.
“O verdadeiro teste não é quanto amor você demonstra em um dia, mas quanto do dia a dia você transforma em demonstração de amor”, conclui o professor. “Presentes você compra na loja. Presença se constrói no aqui e agora”, conclui.