Saúde mental: Tempo de tela impacta na qualidade de vida
Psicóloga alerta para a relação entre tempo de tela, conteúdo consumido e o aumento de casos de ansiedade, depressão e distúrbios do sono
Corpos perfeitos, viagens paradisíacas e conquistas espetaculares. Nas redes sociais, ninguém parece triste. Só que enquanto a vida online parece brilhar, uma parcela crescente da população se sente mais solitária, ansiosa e “insuficiente”.
No Setembro Amarelo, mês de conscientização sobre a saúde mental e prevenção ao suicídio, um questionamento se impõe: como o uso das redes sociais está moldando nosso bem-estar psicológico?
De acordo com a psicóloga Alexia Soares Montingelli Lopes, professora do curso de Psicologia do UniCuritiba – instituição da Ânima Educação –, o ambiente digital exerce forte influência sobre o comportamento humano.
“Na Análise do Comportamento, entendemos que o ambiente funciona como contexto de reforçamento. No caso das redes sociais, trata-se de um espaço que oferece recompensas rápidas e constantes, alterando a probabilidade de repetição do comportamento de uso, muitas vezes em prejuízo da saúde mental e das relações presenciais”, explica.
A primeira grande preocupação é o número de horas gastas diariamente nas plataformas. Segundo o Relatório Digital 2024: 5 billion social media users, da We Are Social em parceria com a Meltwater, o tempo que os brasileiros ficam conectados, por dia, é de 9 horas e 13 minutos.
“Esse tempo, que muitas vezes substitui momentos de descanso, convívio presencial e lazer offline, cria um ciclo de comparação social e superestimulação. Sob a ótica da Análise do Comportamento, estamos diante de contingências que reforçam padrões disfuncionais e aumentam comportamentos de evitação, o que pode resultar em ansiedade, irritabilidade e sensação de exaustão”, observa Alexia.
Segundo a professora do curso de Psicologia, o cérebro não foi feito para processar a quantidade de informações, interações e estímulos de recompensa (como likes e comentários) que circulam nas redes. “Isso gera uma saturação que se manifesta como irritabilidade, dificuldade de concentração e uma sensação constante de cansaço, mesmo após horas de ‘descanso’ online”, explica.
Algoritmos criam bolhas perigosas
Se o tempo excessivo é o combustível, o conteúdo tóxico é a faísca. Os algoritmos das redes sociais são programados para manter o engajamento, direcionando o usuário a conteúdos que podem distorcer a realidade corporal, reforçar padrões de comparação ou intensificar discursos extremistas.
“O indivíduo compara sua vida real, com altos e baixos, às versões idealizadas e aparentemente perfeitas exibidas online. Esse processo gera distorções cognitivas, fragiliza a autoestima e aumenta a probabilidade de respostas de autocrítica e insatisfação, reduzindo o bem-estar psicológico”, comenta Alexia.
Outro aspecto que ajuda a entender a dificuldade de “largar o celular” é o chamado reforço rápido. “Nas redes sociais, o reforço vem de forma imediata, uma curtida, um comentário, uma notificação ou um novo vídeo a cada deslizar da tela. Esse padrão mantém o comportamento de permanecer online, porque o cérebro aprende que sempre existe uma recompensa possível.”
Segundo a professor, esse processo é semelhante ao funcionamento de uma máquina caça-níqueis: nem sempre há um ganho, mas a expectativa do próximo reforço mantém a pessoa engajada. “O problema é que essa dinâmica aumenta o tempo de consumo digital, reduz o interesse por atividades offline e favorece sintomas de ansiedade, irritabilidade e insatisfação constante”, destaca a psicóloga.
Os efeitos mais comuns do uso desmedido das redes incluem alterações no sono, prejuízos na autoestima e elevação nos níveis de ansiedade.
· Sono: a luz azul das telas inibe a produção de melatonina, hormônio responsável pela regulação do sono. Além disso, o fear of missing out (medo de perder algo) e as interações online mantêm o organismo em estado de alerta.
“Esse padrão dificulta a extinção das atividades ao final do dia e prejudica o ciclo natural de sono e a regulação emocional”, aponta a professora.
· Autoestima: a busca por validação por meio de curtidas e comentários torna a autoconfiança instável.
“Quando o engajamento é baixo, o indivíduo pode interpretar a situação como punição social. Nesse contexto, a autoestima fica condicionada a reforços externos, tornando-se frágil e dependente”, explica.
· Ansiedade: a pressão por estar sempre disponível, responder mensagens rapidamente e manter-se atualizado gera um estado de hipervigilância.
“Trata-se de um ambiente de reforçamento aversivo, que mantém comportamentos de checagem constante e aumenta a probabilidade de respostas ansiosas”, acrescenta Alexia.
Sinais de alerta: quando buscar ajuda
A professora do curso de Psicologia do UniCuritiba diz que é importante diferenciar o uso eventualmente excessivo de um padrão de uso patológico das redes sociais.
“Pergunte-se: ‘Como me sinto depois de 20 minutos no TikTok ou no Instagram? Melhor, pior ou igual?’. Se a resposta for ‘pior’, é um sinal claro de que aquele conteúdo não é saudável para você”, alerta a psicóloga.
Para avaliar se o uso das redes sociais está comprometendo a saúde mental, Alexia lista alguns pontos de alerta. “Fique atento a esses sinais e, se for o seu caso, procure ajuda especializada.”
1. Ansiedade ou irritabilidade quando não é possível acessar as redes.
2. Privação de sono ou abandono de atividades importantes para permanecer online.
3. Sensação de mal-estar após o uso.
4. Isolamento das relações presenciais.
5. Busca recorrente por validação online acompanhada de sofrimento diante da baixa interação.
“As redes sociais não são, em si, boas ou más. São ferramentas. O problema surge quando o uso deixa de ser intencional e se torna compulsivo. A Análise do Comportamento nos mostra que a chave está no automonitoramento: observar como seu comportamento é controlado pelo ambiente digital, estabelecer limites de tempo e escolher conscientemente os estímulos aos quais deseja se expor”, finaliza a professora e psicóloga Alexia Lopes.
O UniCuritiba oferece suporte na área de Psicologia. A clínica escola fica no Campus Milton Vianna, rua Chile, 1.678, bairro Rebouças. Os atendimentos são realizados de segunda-feira a sexta-feira, das 8h30 às 21h, mediante agendamento pelo forms Agendamentos Psicologia.
Sobre o UniCuritiba
O UniCuritiba completa 75 anos de tradição e excelência em 2025. A instituição é reconhecida como referência entre os paranaenses e, pelo MEC, como uma das melhores instituições de ensino superior de Curitiba (PR).
Destaca-se por ter um dos melhores cursos de Direito do país, com selo de qualidade OAB Recomenda em todas as suas edições, além de ser referência na área de Relações Internacionais.
Integrante do maior e mais inovador ecossistema de ensino de qualidade do Brasil, o Ecossistema Ânima, o UniCuritiba conta com mais de 70 opções de cursos de graduação em todas as áreas do conhecimento, além de pós-graduação, mestrado e doutorado.
Possui uma estrutura completa e diferenciada, com mais de 60 laboratórios e professores mestres e doutores com vivência prática e longa experiência profissional. O UniCuritiba tem seu ensino focado na conexão com o mundo do trabalho e com as práticas mais atuais das profissões, estimulando o networking e as vivências multidisciplinares.