Home Sem categoria Quase 30% da população brasileira entre 15 e 64 anos ainda é considerada analfabeta funcional

Quase 30% da população brasileira entre 15 e 64 anos ainda é considerada analfabeta funcional

0

Especialistas defendem união de esforços para superar desafio da alfabetização no Brasil e que a saída está no Ensino Fundamental

O panorama da alfabetização no Brasil precisa mudar. Hoje, quase 30% da população entre 15 e 64 anos é considerada analfabeta funcional, ou seja, reconhece as letras e palavras simples, mas tem dificuldade em compreender textos completos. Para especialistas, o ensino fundamental e as famílias podem promover a revolução necessária neste cenário. 

Haroldo Andriguetto Júnior, presidente do Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe/PR), reforça o papel de toda a sociedade nesse processo. “Não podemos aceitar que quase um terço da população adulta ainda enfrente dificuldades básicas de leitura e compreensão”, diz. “Costumamos dizer que a educação não tem preço, tem valor. Investir na alfabetização desde os primeiros anos do ensino fundamental é investir no desenvolvimento social e econômico do Brasil”, completa. 

Tempo não garante qualidade

Os dados sobre o analfabetismo funcional vêm do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf),  um estudo amostral que coleta informações sobre o analfabetismo funcional e completa indicadores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

No último ano, a pesquisa foi feita com cerca de 2,5 mil brasileiros entre 15 e 64 anos, avaliando as competências de leitura, escrita e matemática em situações cotidianas. O Inaf mostra que há um grande número de pessoas que não conseguem chegar ao alfabetismo em nível consolidado mesmo tendo maior escolaridade.

De acordo com os últimos resultados divulgados, em 2024, oito em cada dez pessoas que cursaram apenas os anos iniciais do Ensino Fundamental permanecem na condição de analfabetismo funcional e 19% chegam apenas ao nível elementar. Entre os que cursaram os anos finais do Ensino Fundamental, 43% podem ser classificados como analfabeto funcional, 40% têm alfabetismo elementar e apenas 17% chegam ao nível consolidado de alfabetismo. 

Desigualdades em foco

Para Danielle Carmassi, diretora pedagógica do Colégio Sagrado Coração de Jesus, de Curitiba, entre as explicações pode estar a desigualdade social do país. Um bom processo de aprendizagem (e de alfabetização), reforça, pressupõe que a criança tenha uma boa qualidade de vida: acesso à educação de qualidade, alimentação rica, boas noites de sono e uma família estruturada que possa dar suporte e acompanhe os processos de ensino. 

“Há crianças que realmente não têm acesso a recursos como livros e jogos, que não têm uma família que incentiva a alfabetização, porque falta tempo, conhecimento ou estrutura para isso”, reconhece. “São diversos fatores que atingem as nossas crianças no Brasil e que afetam esse resultado, como a desigualdade social e a pobreza”, completa.

No cenário ideal, é preciso atenção

E quando há condições para tal, a especialista defende que a alfabetização deve ser um processo natural e contínuo, ou seja, não pode terminar na sala de aula. “Além de fazer a descoberta das letras, da escrita das palavras, a criança precisa contextualizar esse aprendizado ao mundo ao seu  redor. Nesse contexto é importante a participação da escola e das famílias”, sugere. “Isso pode acontecer na simples leitura das placas da rua em um passeio com a criança”, exemplifica.

No ambiente escolar, que é estruturado para a alfabetização, Danielle indica a criação de rotinas de leitura e contação de histórias, além de inserir o aprendizado em projetos maiores sobre a leitura e a escrita, aproveitando o grande acesso à informação de uma forma positiva. “Não é somente decodificar, é preciso compreender, fazer uma leitura de mundo”, avalia.


Papel da família

A diretora também chama atenção para a ansiedade de muitos pais, que desejam que os filhos aprendam a ler cada vez mais cedo. Para ela, é essencial compreender que a alfabetização é um processo gradual. 

“A família deve ser parceira da escola, incentivando e apoiando a criança em cada etapa. Mais do que cobrar resultados imediatos, é importante comemorar as conquistas e criar um ambiente de confiança. Assim, garantimos que o aprendizado aconteça de forma saudável e prazerosa, sempre com o bem-estar da criança em primeiro lugar”, conclui.

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here