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Da rua para o meio bilhão de reais: como um catador de papel se transformou em empresário

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Da rua para o meio bilhão de reais: como um catador de papel se transformou em empresário

A história do londrinense Sérgio Fagundes, empresário do ramo de reparo, manutenção e fabricação de grandes máquinas da indústria, é digna de livro ou filme. Na infância, sonhou em trabalhar como eletricista quando auxiliou a família na lavoura e depois como catador de papel no interior do Paraná. Atualmente, dono da Insight Energy, empresa referência em Engenharia Mecânica, tem mais de 500 clientes e com uma carteira de meio bilhão de reais.

Desde pequeno, o olhar empreendedor de Sérgio esteve aguçado. Diante de um fenômeno climático que modificou a vida de milhares de agricultores, a geada negra de 1975, em Londrina, o menino percebeu que a vida poderia melhorar com o estudo e com um olhar diferente para as oportunidades.

“Eu tinha de 3 a 4 anos, e tenho ainda essa imagem, pois muita gente perdeu dinheiro. O café demora para produzir, e de um dia para o outro, a plantação acabou. Meu pai trabalhava na roça e viemos para a cidade para ser auxiliar de serviços gerais de uma companhia de Londrina. A vida mudou, na roça tem muita fartura”, recordou Sérgio, o filho mais velho da família com mais sete irmãos.

Inquieto na busca de colaborar financeiramente em casa, o menino de 10 anos começou a buscar recursos na rua. Deu início a jornada recolhendo papel, diferente da maioria dos coleguinhas da escola que tinham tênis e roupa de marca famosa. “O que eu ganhava no dia, eu comprava alimento para casa. Um quilo de arroz, feijão e isso ajudava. Eu usava o kichute (tênis brasileiro muito popular nas décadas de 1970 e 1980, conhecido por sua durabilidade e preço acessível), e lembro que perguntei para um amigo sobre o trabalho do pai dele. Ele respondeu que o genitor trabalhava como eletricista de uma empresa da cidade. Eu não tive dúvida, falei que seria eletricista quando crescesse. A partir disso, comecei a fazer curso profissionalizante de revistas”, disse Sérgio.

Mais de 60 cursos e carreira em uma única empresa

Entusiasta em aprender e ensinar aqueles que desejavam, Sérgio virou referência até mesmo para profissionais formados e com experiência na engenharia. Aos 18 anos, conseguiu o primeiro emprego como auxiliar de oficina na Nishi, empresa tradicional de Londrina. Com um ano no trabalho, buscava fora da firma oportunidades de crescer, e chegou a pedir a conta ao imaginar que não conseguiria atingir a meta de usar um crachá escrito eletricista.

“Comecei como auxiliar de oficina trabalhando com jato de areia. É um serviço agressivo, e hoje é proibido pelo Ministério do Trabalho (pode desenvolver câncer no pulmão). Fiquei quase um ano, mas busquei melhoria no processo e treinei outro colega. Eu subi para outro setor da fábrica e gostei de ensinar. Depois de um ano, pedi a conta para o meu chefe, pois não consegui chegar na função de eletricista. Ele ficou preocupado e me colocou na função que tanto sonhava. Não parei de estudar fazendo cursos no Senai e no Senac. No total foram 65”, contou o londrinense.

O domínio das atividades seja de projetos, manutenção e segurança, levou Sérgio para a nobre arte de ensinar, qualificando mais de 500 pessoas na profissão. E detalhe: ele entrou na sala de aula como professor substituto, sem deixar de trabalhar na empresa que lhe deu a primeira chance. “Fui cobrir aulas de um amigo no Senai. Era para ser uma semana, e fiquei 4 anos, formando mais de 500 profissionais. Eu estava com quase 30 anos e estive sempre na mesma empresa, só tive um emprego de carteira assinada. Foram 20 anos, ali foi minha escola”, valorizou Sérgio.

Do zero ao meio bilhão

Atento ao mercado e pensando em dar o famoso “pulo do gato” na carreira, Sérgio adquiriu um equipamento que avalia as condições de peças importantes dentro de um processo industrial, uma espécie de scanner, comum no ramo automotivo. Um dos apoiadores do projeto, foi o chefe na Nishi, o Hamilton Iranaga. No entanto, a parceria não foi para frente, pois Sérgio queria dar um passo mais ousado.

“Eu sabia o que precisava, me associei ao CREA-PR, e consegui o atestado de capacidade técnica, um documento que comprova a experiência e competência de uma empresa ou profissional em realizar determinados serviços ou fornecer produtos. Com esse acerto técnico, dei o pontapé inicial de participar de licitações públicas com escalada de crescimento financeiro. Além disso, trouxe profissionais capacitados como meu irmão, técnico em eletrotécnica, administradores e fomos crescendo. A Insight Energy está com 15 anos, saindo do zero com faturamento atual de 6 a 7 milhões por mês, ano passado fechamos com 75 milhões, e previsão para R$ 100 milhões de reais para 2025. Temos meio bilhão em carteira para performar para fazer acontecer”, informou o filho de produtor rural.

A Insight Energy também evoluiu. Além de reparar as máquinas que estão com problemas, também é fabricante de geradores para usinas e manutenção de turbinas hidráulicas. A empresa conta com mais de 300 colaboradores, entre eles, 50 engenheiros. “Passei por dificuldades, mas nunca pensei em desistir. Eu cresci tecnicamente, e vejo que não estamos 100% prontos. Não basta ser apenas empreendedor, é preciso conhecer outros setores. O mundo não é fácil, mas às vezes falta conhecimento. A trajetória da sua vida quem faz é você”, completou Sérgio Fagundes, o eletricista de bilhão.

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