Excesso de telas e redes sociais pode impactar na reprodução humana
Especialista alerta que estilo de vida hiperconectado associado a maus hábitos prejudica a fertilidade de homens e mulheres
Em um mundo cada vez mais digital, ficar online por horas seguidas virou rotina para quase todas as pessoas. Porém, o uso excessivo de telas e redes sociais – somado ao estresse e hábitos pouco saudáveis – pode afetar a saúde mental e ainda impactar diretamente na fertilidade masculina e feminina.
Uma pesquisa feita pela Universidade de Genebra, na Suíça, em parceria com o Instituto de Saúde Pública e Tropical, constatou que usar aparelhos eletrônicos muitas vezes ao dia pode afetar a produção de espermatozoides.
O estudo identificou que homens que acessaram seus celulares mais de 20 vezes por dia tinham uma concentração média de espermatozoides e uma contagem total significativamente menores.
Fatores preocupantes
Segundo a biomédica, embriologista e mestre em Reprodução Humana, Rayssa Alves, fatores como alimentação industrializada, exposição a agrotóxicos e microplásticos, estresse crônico, noites mal dormidas e o uso excessivo de telas e redes sociais compõem um cenário preocupante à saúde reprodutiva.
“Hoje já é possível identificar compostos tóxicos em líquidos que envolvem óvulos e espermatozoides. Isso mostra o quanto nossos hábitos estão impactando diretamente o ambiente reprodutivo do corpo”, explica.
No caso das mulheres, esse impacto pode ser ainda mais crítico, já que elas nascem com uma reserva ovariana finita. “Ao longo da vida, essa reserva sofre os efeitos de tudo o que é consumido ou vivido. Diferentemente dos homens – que produzem espermatozóides a cada 90 dias – as mulheres não renovam seus óvulos. Por isso, os efeitos do estilo de vida sobre a fertilidade feminina são ainda mais intensos”, detalha Rayssa, que integra a comissão de reprodução humana do Conselho Regional de Biomedicina do Paraná 6ª Região (CRBM6).
Redes sociais: vilãs invisíveis?
A relação entre redes sociais e fertilidade vem sendo investigada mais a fundo pela ciência, mas os sinais de alerta estão no radar. A embriologista explica que os dispositivos usados para acessar redes – como smartphones e computadores – emitem ondas de rádio e radiação eletromagnética, que podem afetar a qualidade dos gametas.
“Já existem estudos, especialmente com modelos animais, que mostram redução da reserva ovariana e desequilíbrio hormonal quando os indivíduos são expostos com frequência a essas ondas”, afirma.
Além do impacto físico, há também o peso emocional. A comparação com a vida de outros casais nas redes sociais pode aumentar os níveis de estresse e ansiedade; fatores que prejudicam não apenas o desejo de engravidar, mas também o sucesso dos tratamentos de reprodução assistida.
“Muitas pacientes relatam que, quando começam a tentar engravidar, têm a impressão de que todo mundo ao redor está grávido, menos elas. Essa pressão psicológica, alimentada pelo algoritmo e pela superexposição, gera frustração e sensação de fracasso”, diz a biomédica.
Fertilidade em risco
A embriologista destaca que hábitos associados ao uso intenso das redes – como sedentarismo, distúrbios do sono e má alimentação – formam um combo que afeta diretamente o sistema reprodutivo. “O corpo humano funciona como uma engrenagem. Quando o sono está desregulado, por exemplo, há alteração na liberação hormonal e isso interfere até na absorção dos nutrientes”.
Diante desse cenário, Rayssa Alves orienta os casais que desejam engravidar a adotar uma postura mais crítica em relação ao conteúdo consumido nas redes.
“Evite comparações. Cada organismo reage de forma diferente e cada jornada é única. Em vez de se frustrar com o sucesso alheio, use a internet para buscar apoio, informação de qualidade e inspiração. Existe uma comunidade enorme de pessoas vivendo a mesma luta e isso pode ser reconfortante”, argumenta a biomédica que integra o CRBM6, no Paraná.
O papel do embriologista
Em meio a tantos desafios, os trabalhos de saúde ganham ainda mais relevância para os cuidados individuais. Em 25 de julho é celebrado o Dia do Embriologista; profissionais que atuam diretamente nos laboratórios de reprodução assistida, analisam gametas, acompanham a fecundação e o desenvolvimento inicial dos embriões.
“Como biomédicos embriologistas, somos como guardiões da primeira fase da vida. Tudo começa no laboratório e cada detalhe importa. Por isso, também fazemos parte do processo de orientação dos pacientes, explicando como seus hábitos podem interferir nos resultados dos tratamentos”, conta a mestre em Reprodução Humana.
“A infertilidade tem sempre algo a ensinar. Ela exige resiliência, paciência e, muitas vezes, mudanças profundas no estilo de vida. Desconectar-se um pouco das redes e telas pode ser o primeiro passo para se reconectar com o próprio corpo”, finaliza Rayssa Alves.
Sobre o CRBM6
O Conselho Regional de Biomedicina do Paraná 6ª Região (CRBM6) é uma Autarquia Federal com jurisdição no Estado do Paraná.
A entidade tem cerca de 5,9 mil profissionais registrados. A sede fica em Curitiba e as delegacias regionais estão localizadas nos municípios de Campo Mourão, Cascavel, Foz do Iguaçu, Londrina, Maringá, União da Vitória, Guarapuava, Umuarama, Guaíra e Ponta Grossa.
Os biomédicos atuam em mais de 30 atividades ligadas à saúde tais como acupuntura, análises clínica e ambiental, bromatológicas [avalia a qualidade dos alimentos], auditoria, banco de sangue, biofísica, biologia molecular, bioquímica, citologia oncótica, embriologia, estética, farmacologia, fisiologia, genética, hematologia, histologia, imunologia, imagenologia, informática da saúde, microbiologia, microbiologia de alimentos, monitoramento neurofisiológico transoperatório, parasitologia, patologia, perfusão, psicobiologia, radiologia, reprodução humana, sanitarista, saúde pública, toxicologia, virologia e outras áreas.