O curitibano Eloi Carlos Diegues, 78, é um dos 1,8 milhão de brasileiros que vivem com alguma forma de demência. De acordo com relatório divulgado pelo Ministério da Saúde, em 2024, cerca de 8,5% da população com 60 anos ou mais convivem com a doença, incluindo o Alzheimer, que leva a uma perda progressiva das capacidades cognitivas e da independência. Foi depois de alguns episódios de lapsos de memória, que a família levou Eloi para uma consulta com um neurologista e, após exames e uma avaliação multidisciplinar, veio o diagnóstico da doença de Alzheimer, em 2019. “Foi muito dolorido. A aceitação é muito difícil para a família, você ouvir que o amor da sua vida tem essa doença, que ainda não tem cura”, lembra a esposa de Eloi, Helena Diegues.
Por isso, há três anos, quando houve a oportunidade de Eloi participar de um estudo de uma nova medicação, Helena não teve dúvidas de que ele iria entrar na pesquisa. “Não só ajudou a reduzir os sintomas e o avanço da doença, como também tratou uma cardiopatia severa que ele tem. Temos a consciência de que essa medicação não vai curá-lo, mas ajudou bastante. Nos momentos em que a memória dele volta, aproveitamos para ir ao baile da igreja, dançar e jantar com a família”, conta. “Participar dessas pesquisas também é uma forma de ajudar a encontrar a cura para o futuro”, acredita Helena, informando que, mesmo com o fim dos estudos, o marido continua acessando a medicação gratuitamente.
Essa pesquisa que Eloi participou é realizada no Centro de Pesquisa Clínica do Hospital INC (Instituto de Neurologia de Curitiba) e avaliou a segurança e a eficácia de uma nova medicação em pessoas com diagnóstico com comprometimento cognitivo leve ou demência leve devido ao Alzheimer. Também está em andamento outra pesquisa em doença de Alzheimer, e outras duas estão previstas para iniciar até o final do ano – todas buscam, em curto prazo, melhorar a qualidade de vida e diminuir os sintomas, e em médio e longo prazos, a reversão das lesões cerebrais. A doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência e representa cerca de 60% a 70% dos casos.
Agora, está aberta a seleção de novos participantes para uma pesquisa que trata das alucinações e delírios que podem ocorrer em quem tem doença de Alzheimer. O novo estudo compara o remédio ativo com placebo e, em seguida, o paciente passa para o estudo de extensão, quando só é tomada a medicação ativa. “Já existem medicamentos para tratar os delírios em pacientes que estão no nível moderado ou avançado do Alzheimer. Mas a diferença é que agora nós temos um grupo de medicamentos que não tem os efeitos colaterais dos medicamentos antigos, como enrijecer os músculos e dificultar a locomoção (parkinsonismo). A ideia é que as famílias e pacientes saibam dessa possibilidade de fazer um tratamento melhor, que supera o que existe hoje. Claro, que toda conduta só deve ser tomada em consonância com os médicos que atendem esses pacientes regularmente”, explica o neurologista Pedro Kowacs, chefe do Centro de Pesquisa Clínica do INC.
Novos estudos em doença de Azheimer inicial
Ainda neste ano, segundo a gerente do Centro de Pesquisa Clínica do INC, Vanessa Radünz, começam mais dois estudos na fase inicial, que buscam atrasar a progressão da doença. Um deles propõe o tratamento de comprometimento cognitivo associado à doença de Alzheimer – que impacta severamente a rotina dos pacientes e dos cuidadores. Este estudo irá avaliar a eficácia e a segurança de uma nova molécula em adultos de 60 a 85 anos, diagnosticados com doença de Alzheimer leve a moderada, visando melhorar a cognição e o funcionamento global dos participantes.
Já o segundo estudo vai avaliar a eficácia e segurança de um novo anticorpo em paciente com comprometimento cognitivo leve e demência leve decorrente do Alzheimer. O grande diferencial é que esse novo anticorpo é mais eficiente, pois será transportado para o interstício cerebral por uma molécula que o ajuda a ultrapassar a barreira sangue-cérebro.
Centro de referência de pesquisa
Com mais de 21 anos de atividade, o Centro de Pesquisa Clínica do INC se dedica prioritariamente aos estudos em neurologia, com o objetivo de detalhar os efeitos de novos medicamentos ou outras formas de tratamento (genéticos, farmacológicos, imunobiológicos, etc). O INC já participou de mais de 60 estudos de doenças neurológicas comuns e outras raras (com pouca ou nenhuma alternativa de tratamento), que envolveram cerca de 400 participantes. Reconhecido nos âmbitos nacional e internacional pela qualidade do trabalho, o centro já passou por diversas auditorias internacionais, inclusive inspeção do FDA (Food and Drug Administration), e é regulado por comitês de ética local e nacional e também pela ANVISA.
O centro trabalha geralmente nas fases 2 e 3 das pesquisas clínicas. Isso significa que serão testadas a segurança, os níveis do medicamento no sangue, a tolerabilidade e a eficácia da medicação ou produto em seres humanos. Para participar de uma pesquisa, o candidato precisa passar por uma triagem a partir dos critérios de inclusão e exclusão, que costumam ser bem rígidos, para que seja possível comparar pessoas com condições semelhantes.
SERVIÇO
Centro de Pesquisa Clínica do INC
Mais informações: (41) 99633-1810/ pesquisacuritiba@pesquisacuritiba.com